terça-feira, 19 de maio de 2020

Depressão Pós - Parto


Os primeiros meses do Pedro em casa foram bem tensos.
Era para ter sido maravilhoso e sublime, mas se tornou algo bem assustador e sombrio.
Não sabia muito sobre ele, nunca havia cuidado de um bebê antes,  tive que descobrir e aprender tudo aos trancos e barrancos, era tudo novo.
Sabe quando te dizem que bebês não vem com manual de intruções e tu fica sem entender? Pois bem, agora tinha entendido. 
Deveria vir sim, com certeza facilitaria muito para as mamães de primeira viagem, assim como eu era.
Tive  primeiro que conhecê-lo e depois aprender como cuidá-lo e criá-lo. Um serzinho tão frágil e que dependia totalmente de mim.
Não foi fácil porque além de aprender os cuidados diários, tive mais algumas dificuldades pelo caminho e o choro excessivo foi uma delas.
E para me deixar ainda mais nervosa, ouvia das pessoas que aquilo não era normal. Que ele tinha problemas.
Foram dias bem nebulosos, que lembro como se fosse hoje e olha que já se passaram alguns anos do acontecido.
Foi bem traumático e sofrido não ter ajuda naquele momento. Quem sabe não teria chegado onde chegou. O único apoio que tive foi do marido, que assim como eu, não sabia nada sobre cuidar de um bebê. Não tinha ideia das coisas que deveria ser feito.
Os primeiros quinze dias, achei que  poderia ser os sintomas do puerpério, onde os hormônios  que estavam nas alturas, começavam a despencar.
Acreditava que toda aquela melancolia e os choros sem explicações passariam.
Esperava e rezava para todos aqueles sentimentos irem embora mas, infelizmente, não foram.
Eu chorava o tempo todo e a cada dia me sentia mais fraca, incapaz e tristonha.
Era para ter sido o momento mais lindo  e marcante da minha vida, tinha esperado tanto para viver aquilo.
E eu não me sentia feliz, horrível de pensar, porque eu deveria estar. Tinha um filho lindo e saudável, mas era como me sentia.
Nada fazia sentido, parecia surreal, só queria que tudo voltasse ao normal, como era antes, queria minha vida de volta. 
Queria ter paz na hora do almoço, tempo para um bom banho e uma noite de sono revigorante.
Nada daquilo fazia mais parte da minha vida. Tinha me tornado mãe e não tinha mais tempo para essas coisas, que antes parecia ser tão banal.
Foram tantas mudanças, que minha cabeça não aceitava, não funcionava como antes, não me reconhecia.
Eu sempre fui uma pessoa animada, de alto astral, que adorava uma boa conversa e dar risadas.
E eu não era mais assim, tudo na minha volta, havia perdido a graça,  estava tudo tão nebuloso, não via mais alegria nas coisas.
Me olhava no espelho e meu olhar era de tristeza, não tinha mais aquele brilho nos olhos. 
Pedia à Deus para voltar tudo como era, suplicava por ajuda.
Ao mesmo tempo que queria desaparecer, pensava que não podia abandonar aquele ser,  que não tinha culpa de estar ali, passando por aquilo.
Era um turbilhão de emoções, de medo, culpa e insanidade.
Nunca passou pela minha cabeça fazer alguma coisa de mal com o Pedro, mas pensava em várias vezes acabar com a minha vida, para não viver mais aquilo.
Não pensava em fugir e abandoná-lo. Não queria que ele passasse pelas mesmas coisas que eu havia passado. Por isso, pensava em dar fim a minha vida, porque aquilo não seria um abandono, não seria covardia da minha parte.
Por muitos meses vivi assim, até que meu marido decidiu que era hora de buscar ajuda,  porque ele viu que um dia chegaria em casa e eu já teria cometido alguma coisa contra mim.
Comecei a fazer terapia com uma psicóloga uma vez por semana e passei por um psiquiatra, que deu o diagnóstico de Depressão pós parto.
Me receitou um antidepressivo, que ajudou ainda na produção de leite. O que foi ótimo para mim e para o Pedro.
Cada vez que ia na terapia, parecia que um peso saia das minhas costas, o que foi muito bom para a minha melhora.
Fiquei em tratamento por 6 meses mais ou menos, foi ótimo para começar a me relacionar  com meu filho, pude perceber como ele era como bebê. Parecia que eu estava acordando e descobrindo como realmente era a maternidade.
Foi somente apartir daquele momento, que comecei a me tornar mãe, porque até então, era uma desconhecida para meu filho.
Era para eu ter sido o porto seguro dele e não fui, fiquei devendo isso a ele.
Não consegui aproveitar quase nada dos primeiros meses dele.
Mas graças a Deus, eu estava  me curando e começando a curtir aquele momento.
Foi um pouco mais tarde do que imaginei, mas a tempo de ver ele crescer e poder ofertar o meu verdadeiro amor, como ele realmente merecia.
Não foi fácil, mas hoje estamos bem e com um laço forte de amor para sempre!
Não conseguirei recuperar o tempo perdido, mas tentarei ser a melhor mãe que ele nunca teve.
Nunca é tarde para melhorar e dar o seu melhor!




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